Manifestação

  Camaradas e companheiros!

 

  Hoje aqui, em várias cidades pelo país, e em tantas outras pela Europa,  saímos à rua para lutar por uma vida digna. Esta luta nunca pode parar se o que pretendemos é a mudança! 

  Esta luta tem de servir para construir e reforçar o Poder Popular! 

  É precisamente para contribuir para criar este Poder que nos organizamos na Habitação Hoje! e é por isso que dizemos sempre que a luta tem de ser colectiva e informada. 

  Porque digo-vos aqui, unidos em torno dos nossos problemas e das suas soluções, que não há nada que pare a força colectiva organizada!

  A realidade mostra-nos que a nossa miséria é planeada por quem com quem ela lucra! 

São cada vez mais as pessoas a sofrer com a crise no acesso à habitação! A individualidade que toma conta da nossa sociedade impede-nos muitas vezes de ver que a solução é colectiva! 

 

  Na Habitação Hoje estamos solidários e lutamos ao lado de quem mais sofre, tanto no nosso trabalho diário como nas assembleias que organizamos: 

  Com as Mães solteiras que apesar dos vários trabalhos precários que têm de aucumular são violentamente despejadas e ficam sem ter onde dormir com os filhos, porque o senhorio pode e quer aumentar a renda;

  Com os imigrantes obrigados a viver em quartos com mais de 15 pessoas sem as condições mínimas de higiene e segurança porque não há qualquer tipo de controlo sobre a forma como se lucra com a miséria dos outros!

  Com as pessoas que são obrigadas a sair dos locais onde vivem e onde têm a sua rede de apoio, despejadas, não só por privados, mas também das próprias casas do estado.

 

  Com as pessoas que precisam de uma casa para construir a sua vida: as pessoas sem-abrigo cujo número aumenta de dia para dia, os estudantes a quem o direito à educação lhes é negado, os jovens que não conseguem sair da casa dos pais devido aos valores das rendas, e as vítimas de violência doméstica que são forçadas a viver com o agressor porque não têm alternativa!

  Mas não é só da miséria que nos é infligida que queremos falar aqui hoje, queremos falar do projecto de sociedade porque lutamos!

 

  Queremos Casas para viver!

 

  Se as casas são para viver primeiro do que tudo é importante acabar imediatamente com os despejos! Como podemos aceitar que o governo encha o peito para defender o direito à habitação se por tudo e por nada se pode tirar a casa a alguém? Como pode o senhorio ser livre de aumentar a renda quanto quiser quando os salários dos trabalhadores continuam a encolher? 

 

  Queremos casas para viver! 

  É legítimo gastarmos mais de metade do salário para conseguir ter um sítio para dormir? São muitos os casos de idosos que têm de escolher entre a renda, os medicamentos e a comida! São muitas as pessoas que não conseguem encontrar casas com rendas abaixo do seu salário

  É preciso baixar e controlar as rendas das casas! Os liberais vão logo dizer: mas isso vai tirar as casas do mercado. Mas a verdade é que as casas não vão fugir de onde estão, são imóveis e por isso os senhorios podem perfeitamente ser obrigados a arrendar!

  Mas controlar as rendas não significa descer para a renda acessível que o governo diz ser a solução! Rendas 20% abaixo do valor de um mercado, que está sempre a crescer, significa que a renda acessível também está sempre em crescimento! Isso não é acessível nem aceitável! 

  E o pior de tudo não são os proprietários ficarem isentos de qualquer imposto ao cobrar esta renda especulativa! O pior é que é o próprio estado e as câmaras a cobrarem estes valores nas casas públicas! 

  Isto ao mesmo tempo que existem, neste município, 1000 famílias numa lista, para a qual já é quase impossível de entrar, à espera por uma casa que possam pagar! 

 

  Dizemos: Como não se constroem casas pelo telhado também não se resolvem problemas sem começar por quem mais sofre com eles!

 

  Mas uma coisa é certa! A única forma de garantir o direito à habitação de uma forma estrutural é com o aumento da oferta pública de habitação! E não é com mais construção nova que lá chegamos! Existem 723 mil devolutos em todo o país e concentram-se nos locais em que há mais problemas de habitação! Só no Porto temos mais de 20 mil! Podemos pensar que seria muito caro reabilitar todas estas casas: 

  Pois bem, os dados também nos dizem que mais de metade das casas vazias está em bom estado de conservação, ou seja prontas a habitar!

  Na Habitação Hoje acreditamos na importância do Direito à Cidade, no direito a viver perto do trabalho, do comércio, dos transportes, das escolas, dos hospitais, de parques, de cinemas, de teatros! 

  E por isso mesmo defendemos que a solução para o aumento do número de casas públicas têm de passar pela utilização destas casas vazias! Os seus proprietários não podem continuar a especular enquanto somos obrigados a viver cada vez mais longe de tudo! 

  É urgente por estas casas ao serviço das pessoas que mais precisam e deixar que sejam habitadas!

  Mas não são apenas as quatro paredes e o teto que reivindicamos aqui! Não há acesso à habitação sem conseguir pagar a água, a luz, a comida, os transportes e tantas outras coisas! Precisamos de salários, reformas e pensões, que permitam uma vida digna! 

  Não é minimamente aceitável trabalhar uma vida inteira para viver uma vida inteira na probreza! Não é legítimo trabalhar uma vida toda para depois ter uma reforma de miséria! 

  É preciso dar dignidade aos rendimentos mas é preciso também que o Estado controle os setores essenciais, a energia, a água, a alimentação, e as comunicações! 

  Vimos nos últimos anos como as empresas que controlam estes setores se aproveitam de tudo o que é crise, do covid, da guerra, da inflação, para aumentar os seus lucros! Não podemos aceitar e o Estado não pode permitir este tipo de exploração! 

  Mas vemos que este estado faz o contrário: Incentiva-a!

 

É evidente que os sucessivos governos que tivemos desde a constituição não tiveram nenhum interesse em resolver o problema da habitação e todas as medidas apresentadas são areia para os olhos das pessoas!

  Fica claro que o estado que temos hoje não decide nada em nosso favor! É urgente construir outro que seja nosso e para nós! 

  Se queremos verdadeiramente a mudança desta sociedade, se queremos viver de outra maneira, em que não seja preciso escolher entre a renda e o pão, em que todos têm direito para si e para a sua família a uma casa, temos de nos organizar para construir o poder popular! 

  Temos de estar informados sobre o quê e quem nos oprime, temos de estar juntos para nos defendermos e para enfrentar a opressão, temos de unir-nos para construir alternativas! 

 

   Fica a nossa promessa, que da parte da Habitação Hoje teremos sempre este horizonte como meta! E para darmos continuidade a esta luta que aqui dá mais um passo, convocamos todos vocês que queiram construir a força colectiva a juntarem-se a nós no dia 22 de Abril às 15h, um sábado à tarde como o de hoje, no (xx). para continuarmos esta luta juntos.

 

   Só juntos, informados e organizados podemos garantir o que queremos!

   Casas para viver!